terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sem Tesão Não Há Criação


Assim que cheguei à premiação do Bahia Recall em sua décima oitava edição, fui convidado para dar uma entrevista ao programa Mosaico Baiano. Não que eu seja uma sumidade no assunto. Na verdade, o convidado foi Antônio Luiz Nilo, também Diretor de Criação aqui na Objectiva. Mas acontece que o cara tem fobia de câmera. Pois é, não pode ver uma na frente que trava, não sai nada. Fui praticamente empurrado para a entrevista sob o argumento de que já havia sido professor e saberia me expressar melhor.
O repórter era o grande ator e amigo Ricardo Bittencourt, em cartaz na cidade com o ótimo Novíssimo Recital da Poesia Baiana. Umas das perguntas feitas por Ricardo era sobre a importância do prêmio para o mercado publicitário baiano. Usei a metáfora do termômetro. Disse que era através do Bahia Recall que conseguíamos perceber como estava o nível criativo do mercado.
Levando a analogia ao pé da letra, saí do Teatro Castro Alves com uma certeza: a temperatura da nossa publicidade está baixa. Muito baixa. Afora o nível criativo, que salvo raríssimas e honrosas exceções, não empolga, fiquei com a impressão de que está faltando tesão na propaganda baiana. É claro que uma coisa pode ser consequência da outra. A galera pode estar desanimada exatamente pelo nível criativo estar baixo. Ou vice-versa.
Mas o que deu pra notar perfeitamente naquela noite foi um clima de “nem aí” da maioria dos profissionais. Senti falta dos socos no ar. Dos discursos empolgados. Das dancinhas no palco. Dos pulos de alegria. Dos sorrisos de satisfação. Momentos que só apareceram no final da premiação, em um vídeo com os melhores momentos do evento nos últimos 18 anos. Mas naquela noite, tudo morno. Menos que morno. Frio.
Sei que o nível criativo de um mercado como um todo depende de muitas variáveis para aquecer ou esfriar. Quase todas impossíveis de ser controladas pelos criativos. Depende do cliente, do briefing, do tempo para criar, do atendimento saber vender, do anunciante apostar, da produção comprar a ideia e ter capacidade para executar. É tanta coisa que podemos até dizer que crise no nível criativo do mercado significa, necessariamente, crise no mercado.
Tudo bem, a publicidade baiana não é nenhum mulherão, nenhuma deusa maravilhosa de curvas estonteantes e corpo perfeito. Mas é nossa. E apimentar essa relação pode fazer com que ela passe a frequentar mais o salão, entre numa academia, faça um regime e então, quando a gente menos esperar, olha ela lá, lindona novamente. Depende muito da gente. Já disseram que sem tesão não há solução. E pelo visto, não há criação também.

Um comentário:

Paulo de Sá disse...

Grande Mário! Parabéns pelo post! Eu também compartilho dessa sensação de nostalgia, pelo que já foi a propaganda na Bahia, que me encantava e fez eu escolher essa profissão. Não é mais a mesma. Acho que a qualidade do mercado caiu na mesma proporção que o número de profissionais e faculdades aumentou.