Assim que cheguei à premiação do
Bahia Recall em sua décima oitava edição, fui convidado para dar uma entrevista
ao programa Mosaico Baiano. Não que eu seja uma sumidade no assunto. Na
verdade, o convidado foi Antônio Luiz Nilo, também Diretor de Criação aqui na
Objectiva. Mas acontece que o cara tem fobia de câmera. Pois é, não pode ver
uma na frente que trava, não sai nada. Fui praticamente empurrado para a
entrevista sob o argumento de que já havia sido professor e saberia me
expressar melhor.
O repórter era o grande ator e
amigo Ricardo Bittencourt, em cartaz na cidade com o ótimo Novíssimo Recital da
Poesia Baiana. Umas das perguntas feitas por Ricardo era sobre a importância do
prêmio para o mercado publicitário baiano. Usei a metáfora do termômetro. Disse
que era através do Bahia Recall que conseguíamos perceber como estava o nível
criativo do mercado.
Levando a analogia ao pé da letra,
saí do Teatro Castro Alves com uma certeza: a temperatura da nossa publicidade
está baixa. Muito baixa. Afora o nível criativo, que salvo raríssimas e
honrosas exceções, não empolga, fiquei com a impressão de que está faltando
tesão na propaganda baiana. É claro que uma coisa pode ser consequência da
outra. A galera pode estar desanimada exatamente pelo nível criativo estar
baixo. Ou vice-versa.
Mas o que deu pra notar
perfeitamente naquela noite foi um clima de “nem aí” da maioria dos
profissionais. Senti falta dos socos no ar. Dos discursos empolgados. Das
dancinhas no palco. Dos pulos de alegria. Dos sorrisos de satisfação. Momentos
que só apareceram no final da premiação, em um vídeo com os melhores momentos
do evento nos últimos 18 anos. Mas naquela noite, tudo morno. Menos que morno.
Frio.
Sei que o nível criativo de um mercado como um todo depende de muitas variáveis para aquecer ou esfriar. Quase
todas impossíveis de ser controladas pelos criativos. Depende do cliente, do
briefing, do tempo para criar, do atendimento saber vender, do anunciante
apostar, da produção comprar a ideia e ter capacidade para executar. É tanta
coisa que podemos até dizer que crise no nível criativo do mercado significa,
necessariamente, crise no mercado.
Tudo bem, a
publicidade baiana não é nenhum mulherão, nenhuma deusa maravilhosa de curvas
estonteantes e corpo perfeito. Mas é nossa. E apimentar essa relação pode fazer
com que ela passe a frequentar mais o salão, entre numa academia, faça um
regime e então, quando a gente menos esperar, olha ela lá, lindona novamente. Depende
muito da gente. Já disseram que sem tesão não há solução. E pelo visto, não há
criação também.
Um comentário:
Grande Mário! Parabéns pelo post! Eu também compartilho dessa sensação de nostalgia, pelo que já foi a propaganda na Bahia, que me encantava e fez eu escolher essa profissão. Não é mais a mesma. Acho que a qualidade do mercado caiu na mesma proporção que o número de profissionais e faculdades aumentou.
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